quinta-feira, dezembro 12, 2024
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Sandra Anselmi expõe pela primeira vez como artista no Espaço Etel Design, da SP-Arte

A diretora de criação da Malharia Anselmi elaborou tapeçaria em tricô gigante, 100% natural

A designer farroupilhense Sandra Anselmi, diretora de criação da Malharia Anselmi, exibiu pela primeira vez sua arte em mostra de experimentação têxtil, no Espaço Etel Design, durante o Circuito SP-Arte, neste mês. A convite de Lissa Carmona, CEO e curadora responsável pela Etel, Sandra preparou uma tapeçaria em tricô com cerca de 380 metros lineares, elaborada com matéria-prima 100% natural, que ocupará uma parede inteira, já na entrada da Mostra.

Participaram 60 galerias de arte e design com ateliês abertos, visitas guiadas e encontros com artistas. Nesta edição há um destaque importante para o design, que traz novos artistas e técnicas.

Para a paleta de cores, a artista farroupilhense pesquisou a policromia na própria natureza. Utiliza-se dos tons naturais da lã de ovelha e do algodoeiro, mas em casos excepcionais, como na obra “Não deixe lacunas vazias em sua vida”, 20% dos fios apresentam cor natural, o restante recebeu tingimento de corantes. Do começo ao fim, o processo intuitivo elaborado por ela está em simbiose com a vida e valores da mulher e da artista.

Sua obra é desenvolvida a partir da técnica artesanal conhecida como “tricô de braços”, que desenvolve com uma comunidade de tecelãs em seu ateliê, e tecem pontos de malha, desgalhados e trançados, combinados ao virtuosismo da tecnologia 3D. Reunindo a tecnologia no tecimento para criar texturas com efeitos tridimensionais a fazeres e saberes milenares, Sandra esculpe paisagens oníricas que se assemelham ao acolhimento orgânico, cálido e terapêutico do útero materno.

Sua intimidade com o universo do tricô vem de berço. O fato de a lã e o algodão serem recursos naturais, renováveis e biodegradáveis estimula seu sentido de respeito a essas matérias-primas que tecem histórias desde tempos imemoriais nos reinos da Mesopotâmia (lã) e no Egito Antigo (algodão). Em seus trabalhos, a matéria-prima é enaltecida por estar tramada ao conceito de sustentabilidade. Ela utiliza apenas resíduos de fios que, de outra forma, seriam descartados pela malharia, ganhando, assim, um ressignificado por meio da arte.

Sandra faz parte da constelação de artistas contemporâneos, a maior parte deles, mulheres, empenhados em revolucionar a nobreza ancestral das artes têxteis. Suas esculturas orgânicas se desenvolvem a partir de um jogo lúdico com dimensões e possibilidades infinitas tramado por fios de lã e algodão tricotados com as mãos – sem agulhas – devido à espessura dos fios, resultando em obras volumosas de surpreendente efeito estético.

Apesar de se assumir apenas há três anos como artista, a autodidata traz o milenar fazer das mãos cravado em seu DNA. Há mais de três décadas, participa da principal atividade econômica da família, como sócia da malharia, fundada por seus pais, como ainda hoje é comum no interior do Rio Grande do Sul às famílias de imigrantes europeus que se instalaram na Serra Gaúcha no século passado. “Há algum tempo, entendi: há algo muito especial na ideia do que é ‘local’ – vêm das minhas origens e dos valores que pratico no meu cotidiano”, enfatiza.

Também conta, e muito em seu fazer, sua consciência social, apoiando ovinocultores gaúchos nos Pampas em fazendas centenárias envolvidas, desde sempre, na produção desse fio milenar, contribuindo, assim, com a economia local, com a preservação de tradições culturais e com o sustento de suas famílias. O algodão brasileiro, o outro material que emprega, a artista o faz por motivos semelhantes.

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